Como estamos a estudar o Meio Local e a história da nossa freguesia, fizemos uma entrevista imaginária ao Padre Francisco Barbosa de Queirós, a personagem mais importante de Figueiras.
A conversa decorreu numa linda manhã de outono, na Igreja Paroquial, local onde o Senhor Padre
nos esperava, sentado num cadeirão antigo e
muito bonito.
Entrevistadora- Bom dia, Sr. Padre. Muito obrigada
por aceitar receber-nos, interrompendo o seu eterno descanso. É um enorme prazer poder entrevistar a mais ilustre
personalidade da freguesia de Figueiras.
Padre- Ora essa… Eu é que agradeço o vosso interesse em querer conhecer um pouco mais sobre a
minha vida.
Entrevistadora- Comecemos então pelo início da sua vida, o seu nascimento. Em
que ano nasceu?
Padre- Nasci a 18 de novembro de 1802. Era
um dia de outono, mas a minha querida mãe, que Deus a
tenha em eterno descanso, dizia que estava uma tarde soalheira, a fazer lembrar
o verão de S. Martinho.
Entrevistadora- Já que evoca a
memória de sua mãezinha… Como se
chamavam os seus pais?
Padre- Ai! Os meus pais... Que saudades
tenho deles! O meu estimado pai chamava-se António Barbosa de
Queirós. Era um homem íntegro,
honesto, vivia para o trabalho. A minha querida mãe chamava-se Ana
Joaquina de Miranda. Era uma mulher carinhosa, muito dedicada à família. Ambos me deram uma educação exemplar e me transmitiram valores de vida importantes,
como: a honestidade, a integridade, o amor ao próximo… Éramos uma família muito respeitada lá na terra!
Entrevistadora- Apesar de ter criado muitas raízes em Lousada, o Sr. Padre não nasceu cá. Quais são as suas origens? De onde é natural?
Padre- As minhas origens são humildes. Sou natural da freguesia de Ancede, que pertence
ao concelho de Baião. É uma freguesia
pequena, assim como Figueiras, mas muito bonita! Terra de gente séria e de trabalho, de encantadoras paisagens e de Natureza
ainda pura e genuína.
Entrevistadora- Por que razão resolveu ser padre?
Padre- Sabe, menina, eu era um rapaz
sossegado e muito estudioso e, a partir de certa altura, o pároco da minha terra começou a insistir
com a minha família para me deixar ir estudar para o
Seminário. Os meus pais não tinham
muitas posses económicas, mas lá acabaram por concordar…
Entrevistadora- Em que data veio para Figueiras?
Padre- Olhe, lembro-me como se fosse hoje.
Foi no início do verão, no dia 24 de junho de 1853. Era dia de S. João e estava muito calor! Fui muito bem recebido pelas gentes
aqui de Figueiras! Foi um dia verdadeiramente inesquecível!
Entrevistadora- Por que ficou conhecido por Padre Santinho?
Padre- As pessoas dizem que sempre fui muito
humilde, bondoso e carinhoso, sobretudo com os mais pobres e doentes. Mesmo já depois de ter morrido, muitas pessoas continuaram a
rezar-me, pedindo-me curas para as suas maleitas e doenças… E alguns desses pedidos chegaram
mesmo a ser atendidos!
Entrevistadora- Sabe então dizer-me o nome de alguém a quem tenha
atendido a um pedido ou até mesmo feito um milagre?
Padre- Sei, sim… Lembro-me bem do caso da D. Rita Aires Pinto, de Barrosas. A
senhora estava muito doente… Já todos tinham
perdido a esperança e aguardavam pela notícia da sua morte. Nas suas rezas, pediu-me muito para que a
curasse e acabou por salvar-se. Depois disso, trinta pessoas vieram ao meu túmulo agradecer-me.
Entrevistadora- Depois desse grupo, vieram também outros peregrinos?
Padre- Sim, sim… Durante muitos anos, muita gente veio ao meu túmulo agradecer-me. Traziam-me flores, velas, rezavam e
cantavam…
Entrevistadora- Cantavam? O que cantavam?
Padre- Sim, cantavam canções muito bonitas que me deixavam muito emocionado. Gosto
especialmente desta:
Bom Abade de
Figueiras
Arrodeadinho
de ciprestes
Vimos hoje
agradecer-te
O milagre
que nos fizeste.
Entrevistadora- Também pregava
noutras freguesias?
Padre- Ah, sim! Eu era padre aqui em Figueiras e responsável por esta paróquia, mas também pregava noutras terras… Sabe, vinha
gente de lugares muito distantes só para ouvirem
os meus sermões…. Gostavam de
me ouvir!
Entrevistadora- Como se deslocava para essas terras?
Padre- Naquela altura não era nada como agora… Não havia carros! Eu andava sempre numa pequena jumentinha
branca. Era o meu meio de transporte mas, mais do que isso, era a minha
companhia! Era tão bonita e mansinha… Levava-me para todo o lado e nunca me deixou ficar mal!
Entrevistadora- Para terminar, falemos agora de
coisas tristes… Quando morreu?
Padre- Faleci em 16 de setembro de 1883.
Era dia de festa aqui em Figueiras. Nessa altura, eu já não trabalhava porque era já idoso e sentia-me cansado e doente. Já estava muito fraco e não tinha forças para continuar a servir a população com a mesma entrega e dedicação… Nesse dia, quando o sino tocou, as pessoas pensaram que era
para começar a procissão, mas não… Era a minha
despedida desta freguesia que tantas alegrias me deu e das pessoas de Figueiras
que tão bem me acolheram e trataram.
(Despedimo-nos do Padre Santinho que, em paz, regressou ao
seu túmulo.)
3º Ano Centro Escolar de Figueiras
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